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ALICE NO PAÍS DO ESPELHO

— Eu nunca peço conselhos a ninguém a respeito do meu crescimento, declarou Alice indignada.

— É orgulhosa assim?

— Quero apenas dizer que uma pessoa não pode deixar de ir ficando mais velha, queira ou não queira, disse a menina irritada de tanta estupidez.

— Uma pessoa concordo que não pode, retrucou Humpty. Mas duas pessoas podem. Com o auxílio de mais uma pessoa você poderia ter ficado nos sete anos.

— Que bonito cinto o senhor tem! exclamou Alice de repente. (“Chega do assunto idade, pensara ela. E se a conversa ia como num jogo, ora um dando o assunto, ora outro, achava ela que havia chegado a sua vez de dar assunto.”) Que belo cinto, isto é, que bela gravata, repetiu Alice sem grande certeza se se tratava de cinto ou gravata, porque era difícil distinguir se a cintura de Humpty era pescoço e se o pescoço era cintura.

Humpty nada disse por um minuto ou dois, embora fôsse evidente que estava em cólera. Quando afinal falou foi num resmungo:

— Que grande ingenuidade, não saber distinguir uma gravata dum cinto! disse êle.

— Reconheço que sou uma ignorante, desculpou-se Alice em tom tão humilde que Humpty amansou.

— É uma gravata, menina, e uma bela gravata, como você muito bem disse. Presente do Rei Branco e da Rainha.

— Deveras? exclamou Alice contente de ter escolhido um assunto que parecia contentar o homenzinho.