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HUMPTY DUMPTY
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— Li-o não sei onde, respondeu Alice. Mas tenho na memória alguns versos mais fáceis, que aprendi com Tweedledum.

— Já que fala em versos, disse Humpty esfregando as mãos, posso provar a você que sou capaz de recitar versos tão bem como qualquer pessoa.

— Oh, não é preciso! berrou Alice com mêdo de mais versos daquela qualidade. Humpty não se incomodou com o protesto e prosseguiu:

— O verso que vou repetir foi composto especialmente para você.

Tendo de corresponder à gentileza, Alice não pôde impedir que êle recitasse. Sentou-se no chão e murmurou um “muito obrigada” bastante suspirado.

Humpty começou:

Agora que do inverno sinto a aragem
Canto êstes versos em vossa homenagem...

Mas interrompeu-se para uma explicação. Disse que não ia cantar, como estava na poesia, e sim recitar.

— Estou vendo, murmurou Alice.

— Se está vendo, gritou Humpty com severidade, quer dizer que você tem olhos que ouvem, o que é uma barbaridade. E continuou:

Na primavera, quando o mato cheira a incenso,
Com a minha débil voz eu digo o que penso.

— Faz muito bem! aparteou Alice.

No verão, ão, ão, quando os dias são longos
Talvez você compreenda, enda, os ditongos.