Página:Amor de Perdição (1862).pdf/135

Wikisource, a biblioteca livre

— Sou uma portadora d’esta carta para v. ex.^a

— É de Simão! — exclamou Thereza.

— Sim, minha senhora.

— A reclusa leu convulsiva a carta duas vezes, e disse:

— Eu não posso escrever-lhe, que me roubaram o meu tinteiro, e ninguem me empresta um. Diga-lhe que vou de madrugada para o convento de Monchique do Porto. Que se não afflija, porque eu sou sempre a mesma. Que não venha cá, porque seria inutil, e muito perigoso. Que vá vêr-me ao Porto, que eu hei de arranjar modo de lhe fallar. Diga-lhe isto, sim?

— Sim, minha senhora.

— Não se esqueça, não? Vir cá por modo nenhum. É impossivel fugir, e vou muito acompanhada. Vai o primo Balthazar e as minhas primas, e meu pae, e não sei quantos criados de bagagem e das liteiras. Tirar-me no caminho é uma loucura com resultados funestos. Diga-lhe tudo, sim?

Joaquina disse fóra da porta:

— Menina! olhe que a prioreza anda lá por dentro a procural-a.

— Adeus, adeus — disse Thereza sobresaltada. — Tome lá esta lembrança como prova da minha gratidão.

E tirou do dedo um annel de ouro, que offereceu a Marianna.

— Não aceito, minha senhora.

— Porque não aceita?