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— Porque não fiz algum favor a v. ex.^a. A receber alguma paga ha de ser de quem me cá mandou. Fique com Deus, minha senhora, e oxalá que seja feliz.

Sahiu Thereza, e Joaquina entrou na grade.

— Já te vaes embora, Marianna?

— Vou, que é pressa; um dia virei conversar comtigo muito. Adeus, Joaquina.

— Pois não me contas o que isto é? O amor da fidalga está perto d’aqui? Conta, que eu não digo nada, rapariga!...

— Outra vez, outra vez; obrigada, Joaquininha.

Marianna, durante a veloz caminhada, foi repetindo o recado da fidalga, e, se alguma vez se distrahia d’este exercicio de memoria, era para pensar nas feições da amada do seu hospede, e dizer, como em segredo, ao seu coração: «Não lhe bastava ser fidalga e rica; e, além de tudo, linda como nunca vi outra!» E o coração da pobre moça, avergando ao que a consciencia lhe ia dizendo, chorava.

Simão, de uma fresta do postigo do seu quarto, espreitava ao longo do caminho, ou escutava a estropeada da cavalgadura.

Ao descobrir Marianna, desceu ao quinteiro, despresando cautelas, e esquecido já do ferimento cuja crise de perigo peorára n’aquelle dia, que era o oitavo depois do tiro.

A filha do ferrador deu o recado, sem alteração de