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— Que me importa a mim a sentença? — replicou o filho do corregedor.

— Pelo que vejo não lhe importa ao senhor ir a uma forca?

— Não, senhor.

— Que diz, senhor Simão! — redarguiu espantado o interrogador.

— Digo que o meu coração é indifferente ao destino da minha cabeça.

— E sabe que seu pae não lhe dá mesmo protecção, a protecção das primeiras necessidades na cadêa?

— Não sabia; que tem isso? Que importa morrer de fome, ou morrer no patibulo?

— Porque não escreve a sua mãe? Peça-lhe que...

— Que hei de eu pedir a minha mãe? — atalhou Simão.

— Peca-lhe, que amacie a cólera de seu pae, senão o senhor Botelho não tem quem o alimente.

— V. s.a está-me julgando um miseravel, a quem dá cuidado saber onde ha de almoçar hoje. Penso que não incumbem ao senhor juiz de fóra essas miudezas de estomago.

— De certo não — redarguiu irritado o juiz — Faça o que quizer.

E, chamando o meirinho geral, entregou-lhe o réo, dispensando o aguazil de pedir força para acompanhal-o.

O carcereiro recebeu respeitosamente o prêso, e alo-