Página:Amor de Perdição (1862).pdf/199

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um desejo, que eu não possa confessar alto diante de todo o mundo. Diz tu, Thereza, se os meus labios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a Deus quando quiz eu fazer do meu amor o teu opprobrio.

Nunca, Thereza! Nunca, ó mundo que me condemnas!

Se teu pae quizesse que eu me arrastasse a seus pés para te merecer, beijar-lh’os-ia. Se tu me mandasses morrer para te não privar de ser feliz com outro homem, morreria, Thereza!

Mas tu eras sósinha e infeliz, e eu cuidei que o teu algoz não devia sobreviver-te. Eis-me aqui homicida, e sem remorsos. A insania do crime aturde a consciencia; não a minha, que se não temia das escadas da forca, nos dias em que o meu despertar era sempre o estrebuxamento da suffocação.

Eu esperava a cada hora o chamamento para o oratorio, e dizia comigo: Fallarei a Jesus Christo.

Sem pavor, premeditava nas setenta horas d’essa agonia moral, e antevia consolações que o crime não ousa esperar sem injuria da justiça de Deus.

Mas chorava por ti, Thereza! O travor do meu calix tinha sobre a sua amargura as mil amarguras das tuas lagrimas.

Gemias aos meus ouvidos, martyr! Vêr-me-ias sacudido nas convulsões da morte, em teus delirios. A mesma morte tem terror da suprema desgraça. Tarde