Não pôde ter-se sentado, e deixou cahir meio corpo. A cabeça, ao declinar, pousou no seio de Marianna.
— O anjo da compaixão sempre comigo! — murmurou elle — Thereza foi muito mais desgraçada...
— Quer descer ao camarote? — disse ella.
— Não poderei... Ampare-me, minha irmã.
Deu alguns passos para o alçapão, e olhou ainda para o mirante. Desceu a ingreme escada, apegando-se ás cordas. Lançou-se sobre o colchão, e pediu agua, que bebeu insaciavelmente. Seguiu-se a febre, o estorcimento, e as ancias, com intervallos de delirio.
De manhã veio a bordo um facultativo, por convite do capitão. Examinando o condemnado, disse que era «maligna» a doença, e que bem podia ser que elle achasse a sepultura no caminho da India.
Marianna ouviu o prognostico, e não chorou.
Ás onze horas sahiu barra fóra a nau. Ás ancias da doença accresceram as do enjoo. A pedido do commandante, Simão bebia remedios, que bolsava logo, revoltos pelas contracções do vomito.
Ao segundo dia de viagem Marianna disse a Simão:
— Se o meu irmão morrer, que hei de eu fazer áquellas cartas que vão na caixa?
Pasmosa serenidade a d’esta pergunta!
— Se eu morrer no mar — disse elle — Marianna atire ao mar todos os meus papeis; todos; e estas cartas que estão debaixo do meu travesseiro tambem.