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flôres e aves. Passeavas comigo á margem do Mondego, á hora pensativa do escurecer. Estrellava-se o ceu, e a lua abrilhantava a agua. Eu respondia com a mudez do coração ao teu silencio, e, animada por teu sorriso, inclinava a face ao teu seio como se fosse o de minha mãe... De que ceu tão lindo cahimos... A tua amiga morreu... A tua pobre Thereza.............................

E que farias tu da vida sem a tua companheira de martyrio?... Onde irás tu aviventar o coração que a desgraça te esmagou... Rompe a manhã... Vou vêr a minha ultima aurora... a ultima dos meus dezoitos annos. Offerece a Deus os teus padecimentos para que eu seja perdoada... Marianna...»

Marianna collou os ouvidos aos labios roixos do moribundo, quando cuidou ouvir o seu nome.

«Tu virás ter comnosco; ser-te-hemos irmãos no ceu... O mais puro anjo serás tu... se és d’este mundo, irmã; se és d’este mundo, Marianna...»

A transição do delirio para a lethargia completa era o annuncio infallivel do trespasse.

Ao romper da manhã apagára-se a lampada. Marianna sahira a pedir luz, e ouvira um gemido estorturoso. Voltando ás escuras, com os braços estendidos para tactear a face do agonisante, encontrou a mão convulsa, que lhe apertou uma das suas, e relaxou de subito a pressão dos dedos.

Entrou o commandante com uma lampada, e approximou-