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Simão estendeu a mão ao ferrador, e disse commovido:

— -Dê cá a sua mão; quero sentir na minha a mão de urn homem honrado.

— Nas occasiões é que se conhecem os homens — redarguiu o ferrador. — Ora vamos... não ha tempo para fallatorio. O senhor doutor tem uma espera.

— Tenho? — disse Simão.

— Atraz da igreja estão dois homens que eu não pude conhecer; mas não se me dava de jurar que são criados do senhor Balthazar. Salte abaixo do cavallo, que ha de haver mostarda. Eu disse-lhe que não viesse; mas v. s.^a veio, e agora é andar com a cara para a frente.

— Olhe que eu não tremo, mestre João — disse o filho do corregedor.

— Bem sei que não; mas, á vista do inimigo, veremos.

Simão tinha apeado. O ferrador tomou as rédeas do cavallo, recuou alguns passos na rua, e foi prendêl-o á argola da parede de uma estalagem.

Voltou, e disse a Simão que o seguisse a elle e ao cunhado na distancia de vinte passos; e que, se os visse parar perto do quintal de Albuquerque, não passasse do ponto d’onde os visse.

Quiz o academico protestar contra um plano, que o humilhava como protegido pela defeza dos dois homens; o ferrador, porém, não admittiu a réplica.

— Faça o que eu lhe digo, fidalgo — disse elle com energia.