Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/48

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o esposo que meu pai me destinara, sou agora maltratada da sorte e havida como perjura por um príncipe que me queria.

Parece que a rapariga não recitou exatamente seu papel de comédia; porque D. José, surpreso, murmurou-lhe ao ouvido:

— Que me perseguia!

A princesa deu um muxoxo, e fingindo enxugar duas lágrimas rebeldes, que nem sequer umedeceram o canto dos olhos negros, abaixou a cabeça para esconder o riso brejeiro que frisava a ponta do lábio.

— Erguei-vos, formosa princesa, que não de joelhos, mas sobre um trono, deveis mandar a vossos leais cavalheiros. E secai esses belos olhos, que com fervor de Deus e vosso amparo, breve haveremos fronta e desagravo de vossa injúria.

Estas palavras foram proferidas por D. Fernando de Ataíde; e logo erguendo com toda a galanteria a fingida princesa, a fez sentar no coxim preparado sobre o estrado.

A odalisca deu sinal a suas escravas; estas imediatamente trançaram novas danças, ainda mais graciosas e originais que as primeiras; nos intervalos o histrião