Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/18

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por entre o arvoredo basto, um rapazito que tocava três mulas de carga. Havia aí um bebedouro. Enquanto matavam a sede e resfolgavam os animais fatigados da caminhada, o moço recoveiro lavara o rosto e as mãos cobertas de pó, e se recostara no tronco derreado de um velho salgueiro. Para amenizar o descanso, sacara do alforje um alfarrábio sovado e roído nas pontas, e prosseguiu na leitura já começada. Era a obra, que assim lhe prendia a atenção um volume truncado dos muitos que deixou Lope da Vega sob o título de Autos Sacramentales.

Lia o rapazito quando os estalinhos que dava a menina, imaginando repinicar as castanholas, o fizeram erguer olhos para o pomar. Julgou ver ali uma das virgens dos painéis de Navarreto, el mudo, o mais gracioso dos pintores daquele tempo. Esteve contemplando-a até o momento em que as agulhas caíram.

O recoveiro ergueu-se devagarinho; tinha na fisionomia a astúcia do gato.

— O que dará a niña a quem lhe achar suas agulhas?

Dulce soltou um pequeno grito de espanto vendo