Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/301

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— Que quereis dizer, formosa Raquel? Explicai-vos melhor.

— Lembre-se meu senhor, que até este instante ainda não lhe ouvi as falas de amor, que tão doces dizem ser!

— Não é minha a culpa, decerto, pois nunca me destes a ocasião.

— Agora que a tendes, dai-me este gosto. Esta que deve em pouco pertencer-vos de corpo e alma, antes quer-se conquistada e rendida ao encanto de vossa palavra, do que vencida à força de seu juramento. Tereis ânimo de negar-lhe tão pequena graça?

— Seja como quereis!

O alferes começou então a desfiar o longo rosário de protestos e juramentos inventados para uso dos namorados; apesar de pouco prático em aventuras galantes, não lhe esqueceram as comparações mitológicas, muito em voga ainda naquela época do amor clássico. Raquel o ouvia com as pálpebras meio cerradas, e um sorriso inexprimível a borboletear nos lábios soabertos. Samuel, testemunha oculta da cena, apertava entre os dedos hirtos o cabo do cutelo, enquanto a outra mão calcava a mola da porta falsa.