Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/303

Wikisource, a biblioteca livre

da ampulheta superior, Raquel ergueu a fronte com uma expressão singular. Havia nessa vibração da cabeça alguma coisa do colear da serpe quando se enrista para lançar o bote.

— Basta, disse ela, já vos ouvi de sobra... Ouvi-me vós agora!

— Com o maior prazer, formosa Raquel!

— Sabei, cavalheiro, que eu vos quis desde o primeiro instante em que vossos olhos se puseram em mim. Não sei ainda hoje como isto foi; somente sei, que vendo-vos pareceu-me reconhecer-vos por aquele que meu coração esperava desde menino, e com quem se habituara a sonhar e folgar.

— Outro tanto me aconteceu!

— Mísera judia, saída embora de gente mesquinha e desprezada, eu pagava em admiração o desprezo em que vossos irmãos têm os meus. Nobreza, honra, valor, generosidade, todas essas virtudes que eu julgava terem nascido com a raça cristã, todas amei-as em vossa pessoa. Fostes para mim o tipo dos heróis da cavalaria, que desde a infância me acostumei a adorar, enlevada na história de suas façanhas e brios.

— Igual vos amo eu, formosa Raquel! Para mim sois a imagem da beleza...

— Deixai que prossiga: é