Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/13

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Esses olhos, tão fortes ainda, que se afrontam com os esplendores do sol, o velho pajé ora os põe no chão, onde a terra forma como um álveo abandonado pelo rio, ora os estende pelo horizonte além, como se devassassem a incomensurável distância.

Que viam eles nesses pontos extremos?

Ali naquela areia, que outrora umedeciam as águas do caudaloso rio, cintilam frouxamente aos raios do sol nascente miríadas de pequenas pedras brancas da feição de pingos de cristal. Deus semeara o diamante em abundância aí, bem longe da ambição humana, que mais tarde devia ir arrancá-lo de seu leito ignorado. O velho, que nesse momento as contempla desdenhosamente de cima do rochedo, sabe acaso que tem a seus pés riquezas maiores que nunca possuíram reis da terra?

Longe, no horizonte sem limites, não há mais que o espaço infinito; mas os olhos do pajé veem um vulto de mancebo armado que avança pelo sertão em busca da serrania; o caminho é árduo, o passo tardio. A alma do velho anseia para atrair mais rápido o esperado guerreiro; porque sente que a vida se escoa lentamente do corpo decrépito.