Página:As Minas de Prata (Volume VI).djvu/38

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pelo homem negro, abaruna, que serve ao Deus dos brancos! Só faltava essa amargura à vida já tão atribulada do velho pajé.

Os selvagens pararam a um aceno do sacerdote cristão, que se dirigiu só e com tardo e vacilante passo para o rochedo.

O P. Inácio do Louriçal, da Companhia de Jesus, voltava de sua digressão pelas cabeceiras do São Francisco de onde trouxera aquela tribo para aldeá-la nas proximidades da Bahia. Avistando o pajé, o apóstolo de Cristo cingiu os rins, caminhou avante, onde ele via uma luta a sustentar com o inimigo da religião, e uma alma a remir.

Abaré, sepultado em sua dor, viu-o que se aproximava; e quanto lhe restava de vida refluiu aos lábios em um assomo de cólera feroz:

— Venceste, abaruna! Tupã deixou que seus filhos degenerados se esquecessem dele e de seus pais para te seguirem como cativos. Mas o dia da vingança chegará!... Tupã já arrancou o rio do seu caminho!...

O velho debruçou-se sobre o alcantil, e com um gesto feroz apontou o álveo do rio:

— Vês?... A gente branca correrá para aqui