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NARIZINHO ARREBITADO

Dona Carochinha botou-lhe a lingua — uma lingua muito magra e secca — retirando-se furiosa da vida, a resmungar que nem uma negra bem beiçuda.

O principe respirou de allivio ao ver o incidente terminado. Depois encerrou a audiencia e disse para o primeiro ministro:

— Mande convite a todos os nobres da corte para a grande festa que vou dar amanhã em honra á nossa distincta visitante. E diga a mestre Camarão que ponha o coche de gala para um passeio pelo fundo do mar. Já.

IV — O BOBINHO

O passeio que Narizinho deu com o principe foi o mais bello que fez em toda a sua vida. O coche de gala corria por sobre a areia alvissima do fundo do mar conduzido por mestre Camarão e tirado por seis parelhas de hippocampos uns bichinhos com cabeça de cavallo e cauda de peixe. Em vez de pingalim o cocheiro usava os fios de sua barba para chicoteal-os — "lept! lept"!...

Que lindos lugares viu! Florestas de coral, bosques de esponjas vivas, campos de algas das formas mais estranhas. Conchas de todos os geitos e côres. Polvos, enguias, ouriços — milhares de creaturas marinhas tão exquisitas que até pareciam mentira do barão de Munchkausen.

Em certo ponto encontrou uma baleia dando de mamar a varias baleinhas novas. Teve a idéa de levar para o sitio uma garrafa de leite de baleia, só para ver a cara de espanto que dona Benta e tia Nastacia fariam. Mas logo desistiu disso, pensando: "Não vale a pena. Ellas não acreditam mesmo..."

Nisto appareceu ao longe um formidavel espadarte. Vinha com o seu comprido esporão de pontaria feita para o cetaceo, que é como os sabios chamam a baleia. O principe assustou-se.