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NARIZINHO ARREBITADO

dava gritos de alegria. Em certo momento o mordomo do palacio entrou e disse umas palavras ao ouvido do principe.

— Pois mande-o entrar, respondeu este.

— Quem é? indagou a menina,

— Um anãozinho que nos appareceu aqui hontem para contratar-se como bôbo da côrte. Estamos sem bôbo desde que o nosso querido Carlito Pirolito foi devorado pelo peixe-espada.

O candidato ao cargo de bôbo da côrte entrou conduzido pelo mordomo, e logo saltou para cima da mesa, pondo-se a fazer graças. Narizinho percebeu incontinenti que o bobinho não passava do Pequeno Pollegar, vestido com o classico saiote de guizos e uma carapuça tambem de guizos na cabeça. Percebeu mas fingiu não ter desconfiado de nada.

— Como é o seu nome? perguntou o principe.

— Sou o gigante Fura-Bolos! respondeu o bobinho sacudindo os guizos.

Pollegar não tinha o menor geito para aquillo. Não sabia fazer caretas engraçadas, nem dizer coisas que fizessem rir. Narizinho teve um grande dó delle e disse-lhe baixinho:

— Appareça lá no sitio de vóvó, senhor Fura-Bolos. Tia Nastacia faz bolinhos muito bons para serem furados. Vá morar commigo, em vez de levar essa vida idiota de bôbo da côrte. Você não dá para isso.

Nesse momento reappareceu na sala a baratinha de mantilha, de nariz erguido para o ar como quem fareja alguma coisa.

— Achou o fugido? perguntou-lhe o principe.

— Ainda não, respondeu ella, mas aposto que anda por aqui. Estou sentindo o cheirinho delle.

E farejou outra vez o ar com o seu nariz de papagaio secco.

Apezar de ser muito burrinho, o principe desconfiou que o tal Fura-Bolos fosse o mesmo Pollegar.