— Talvez esteja, disse. Talvez Pollegar seja o bobinho que veio se offerecer para substituir o Carlito Pirolito. Que é delle? indagou correndo os olhos em rodor. Esteve aqui ainda agora, não faz meio minuto!..
Procuraram o bobinho por toda a parte inutilmente. E' que a menina, mal viu entrar na sala a diaba da velha, disfarçadamente o agarrara e enfiara pela manga do vestido.
Dona Carochinha remexeu por todos os cantos, até dentro das terrinas, resmungando:
— Está aqui, sim. Estou sentindo o cheirinho delle cada vez mais perto. Desta feita não me escapa.
Vendo-a approximar-se mais e mais, Narizinho perturbou-se. E, para disfarçar, gritou:
— Dona Carochinha está caducando! Pollegar usa as botas de sete leguas e se esteve aqui, deve estar já na Europa!
A velha deu uma risada gostosa.
— Não vê que sou bôba! Assim que desconfiei que andava querendo fugir, fui logo tratando de trancar suas botas na minha gaveta. Pollegar fugiu descalço e não me escapa.
— Ha de escapar, sim! gritou Narizinho em tom de desafio.
— Não escapa, não! retrucou a velha, e não me escapa porque já sei onde está. Está escondido ahi na sua manga, ouviu? e avançou para ella.
Foi um reboliço na sala. A velha atracou-se com a menina e certamente que a subjugaria se a boneca, que estava na mesa ao lado da sua dona, não tivesse a bella idéa de arrancar-lhe os oculos e sahir correndo com elles.
Dona Carochinha nada enxergava sem oculos, de modo que ficou a pererecar no meio da sala como céga, emquanto a menina corria a esconder Pollegar na gruta dos thesouros, bem lá no fundo de uma concha.