soura cahiu-me aos pés, rachando o osso aqui neste lugar. Fui tratada pelo doutor Caramujo, que é um medico muito bom. Sarei, embora ficasse manca pelo resto da vida.
— Acha que esse tal doutor Caramujo é capaz de curar uma boneca que nasceu muda?
— Cura sim. Elle tem umas pilulas que curam todas as doenças, excepto quando o doente morre.
Emquanto conversavam dona Aranha ia trabalhando no vestido.
— Está prompto, disse ella por fim. Vamos proval-o.
Narizinho vestiu-o, indo ver-se ao espelho.
— Que belleza! exclamou, batendo palmas. Pareço um céu aberto!...
E estava mesmo linda. Linda, tão linda no seu vestido de teia côr de rosa com estrellinhas de ouro, que até o espelho arregalou os olhos, de espanto.
Trazendo em seguida seu cofre de joias, dona Aranha poz-lhe na cabeça um diadema de orvalho, e braceletes de rubi do mar nos braços, e aneis de brilhantes do mar nos dedos, e fivellas de esmeralda do mar nos sapatos, e uma grande rosa do mar no peito.
Mais linda ainda ficou Narizinho, tão mais linda que o espelho arregalou um pouco mais os olhos, começando a abrir a bocca.
— Prompto? perguntou a menina deslumbrada.
— Inda não, respondeu dona Aranha. Faltam os pós de borboleta.
E ordenou ás suas seis filhinhas que trouxessem as caixas de pó de borboleta. Escolheu o mais conveniente, que era o famoso pó Furta-todas-as-côres, de tanto brilho que parecia pó de céu-sem-nuvens misturado com pó de sol-que-acaba-de-nascer. Polvilhada com elle a menina ficou tal qual um sonho dourado! Linda, tão linda, tão mais, mais, mais linda que o espelho foi arregalando ainda mais os olhos,