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NARIZINHO ARREBITADO

E dando boas noites ao principe retirou-se com Emilia para os seus aposentos.

Mas Narizinho não poude dormir. Mal se deitou ouviu gemidos no jardim que havia ao lado. Levantou-se. Espiou da janella. Era o sapo que fôra vestido de velha coróca.

— Boa noite, Major Agarra! Que gemidos tão tristes são esses? Não está contente com a sua sainha nova?

— Não caçoe, menina, que o caso não é para caçoar, respondeu o pobre sapo com voz chorosa. O principe condemnou-me a engulir cem pedrinhas redondas. Já enguli noventa e nove. Não posso mais! Tenha dó de mim, gentil menina, e peça ao principe que me perdoe...

Tanta pena sentiu Narizinho que mesmo em camisola como estava foi correndo ao quarto do principe, batendo precipitada — “tóc, tóc, tóc”!..

— Quem é? indagou de dentro o peixinho, que estava a despir-se das suas escamas para dormir.

— E' Narizinho. Quero que perdoe o pobre coitado do Major Agarra.

— Perdoar do que? exclamou o principe, que tinha a memoria muito fraca.

— Pois não o condemnou a engulir cem pedrinhas redondas? Já enguliu noventa e nove e está engasgado com a ultima. Não entra. Não cabe! Está lá no jardim de barriga estufada, gemendo e chorando que não me deixa dormir.

O principe damnou.

— E' muito estupido o Major! Eu disse aquillo de brincadeira, pois não viu? Diga-lhe que desengula as pedrinhas e não me amole.

Narizinho foi, pulando de contente, dar a boa noticia ao sapo.

— Está perdoado, Major! O principe manda ordem de desengulir as pedrinhas e voltar para o serviço.

Por maior esforço que fizesse o sapo não conseguiu desengulir uma só.