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NARIZINHO ARREBITADO

herdeiros. O raio do ladrão só deixou uma — e impropria para o caso porque não é pilula falante.

— E agora?

— Agora só fazendo uma operação cirurgica. Abro a garganta della e ponho dentro uma falinha, respondeu o doutor pegando na sua faca de ponta para amolar.

Nesse momento ouviu-se grande barulheira no corredor.

— Que será? indagou a menina surpreza.

— E' o papagaio que vem vindo, declarou o doutor.

— Que papagaio, homem de Deus? Que vem fazer esse papagaio aqui?

Mestre Caramujo explicou que como não houvesse encontrado suas pilulas mandára pegar um papagaio muito falador que havia no reino. Ia matal-o para apanhar a falinha que necessitava para por dentro da boneca.

Narizinho, que não admittia que se matasse nem formiga, revoltou-se contra a barbaridade.

— Então não quero! Prefiro que Emilia fique muda toda a vida a sacrificar uma pobre ave que não tem culpa de coisa nenhuma.

Nem bem acabou de falar e os ajudantes do doutor, uns caranguejos muito antipathicos, surgiram á porta, arrastando um pobre papagaio de bico amarrado. Bem que resistia elle, mas os caranguejos podiam mais e era cada murro no pé do ouvido...

Furiosa com a estupidez, Narizinho avançou de sopapos e ponta-pés contra os brutos.

— Não quero! Não admitto que judiem delle! berrou vermelhinha de colera, desamarrando o bico do papagaio e jogando as cordas no nariz dos caranguejos.

O doutor Caramujo desapontou, porque sem pilulas nem papagaios era impossivel concertar a boneca. E deu ordem para que trouxessem o segundo paciente.

Dalli a pouco appareceu o sapo, de carrinho. Teve de vir sobre rodas, tal era o estufamento da sua barriga; parece