Página:As Reinações de Narizinho.pdf/41

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
35

lugar do "tloc"! do costume o que soou foi um berro — "ail ail ai!"... que lá dentro da casa as duas velhas ouviram.

— Que será aquillo? exclamou dona Benta assustada.

— Aposto que é vespa, sinhá! disse tia Nastacia. Ella não sae da "fruteira" e, como nunca foi mordida, abusa. Eu vivo dizendo: "Cuidado com as vespas!" mas não adeanta, Narizinho não faz caso. Agora está ahi...

E foi correndo ao pomar acudir a menina.

Encontrou-a já de volta, berrando com a lingua á mostra, porque fôra bem na ponta da lingua que a vespa a ferrotoara. A negra trouxe-a para casa, pol-a no collo e disse:

— Socegue, boba, isso não é nada. Dóe mas passa. Ponha a lingua para eu arrancar o ferrão. Vespa quando morde deixa o ferrão no lugar da mordedura. Bem para fóra. Assim.

Narizinho espichou meio palmo de lingua e tia Nastacia, com muito custo, porque já tinha a vista fraca, poude afinal descobrir o ferrãozinho e arrancal-o.

— Prompto! exclamou mostrando qualquer coisa na ponta duma pinça. Está aquí o malvado. Agora é ter paciencia e esperar que a dor passe. Se fosse mordida de cachorro bravo seria muito peor...

Narizinho curtiu a dor por alguns minutos, de lingua inchada e olhos vermelhos, soluçando de vez em vez. Depois que a dor passou foi contar á boneca toda a tragedia.

— Bem feito! disse Emilia. Se fosse eu, antes de comer olhava cada fruta, uma por uma, com o binoculo de dona Benta.

Apezar do acontecido Narizinho não poude reprimir uma gargalhada, que tia Nastacia ouviu lá da cozinha. Narizinho já sarou, resmungou ella, e daqui a pouco está trepada na arvore outra vez.

E tinha razão. Indo dalli a pouco ao ribeirão com a trouxa de roupa, ao passar perto da jaboticabeira ouviu a