Página:As Reinações de Narizinho.pdf/46

Wikisource, a biblioteca livre
40
O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

— Você me frita para o jantar o peixinho da Emilia? Frita?

— Frito, sim! Frito até no dedo!...

— Não caçoe, tia Nastacia! Emilia é uma damnada! Ninguem imagina do que essa sonsa é capaz!...

Palavras não eram ditas e — "tchibum!..." A pescadora de panno revirara para dentro dagua com pedra e tudo.

— Acuda, Nastacia! Emilia está se afogando!... gritou a menina afflicta.

De facto. Um peixe engulira a isca, e, luctando por safar-se do anzol, arrastara com a pescadora para o meio do rio.

Tia Nastacia arranjou uma vara de gancho e com muito geito foi puxando para a beira do corrego a infeliz pescadora, até ponto em que a menina a pudesse agarrar.

Assim aconteceu — e qual não foi o assombro de Narizinho vendo sahir dagua, preso ao anzol de Emilia, uma trahirinha que rabeava como louca?

A negra pendurou o beiço.

— Crédo! Até parece feitiçaria! resmungou.

Muito contente da aventura, Narizinho disparou para casa com o peixe na mão.

— Vóvó, gritou ella ao entrar, adivinhe quem pescou esta trahirinha, se é capaz!...

Dona Benta olhou e disse:

— Ora, quem mais! Você, minha filha.

— Errou!

— Tia Nastacia, então.

— Qual Nastacia, nada!...

— Então foi o sacy, caçoou dona Benta.

— Vóvó não adivinha! Pois foi a Emilia...

— Está bobeando sua avó, minha filha?

— Juro! Palavra de Deus que foi a Emilia! Pergunte á tia Nastacia, se quizer.