A preta vinha entrando nesse momento com a trouxa de roupa á cabeça.
— Não foi mesmo, tia Nastacia? Não foi a Emilia quem, pescou a trahirinha?
— Foi sim, sinhá! respondeu a preta dirigindo-se para dona Benta. Foi a boneca. Sinhá não imagina que menina reinadeira é essa! Arranjou geito de botar a boneca pescando na beira do rio e o caso é que peixe está ahi...
Dona Benta abriu a bocca.
— Bem diz o dictado, quanto mais se vive mais se aprende. Estou com mais de sessenta annos e todos os dias aprendo coisas novas com esta minha neta do chifre furado...
— Creança de hoje, sinhá, já nasce sabendo. No meu tempo, menina assim desse porte andava no braço da ama, de chupeta na bocca. Hoje?... Crédo! Nem é bom falar!...
E com a menina dançando á sua frente foi para a cozinha fritar a trahira.
IV — AS FORMIGAS RUIVAS
Só depois de comer a trahira frita é que Narizinho se lembrou da pobre boneca encharcada pelo banho no rio.
— A coitada!... E' bem capaz de apanhar pneumonia...
E foi correndo cuidar della. Despiu-a e pol-a num lugar de bastante sol. Dum lado estendeu suas roupinhas molhadas e de outro, a pobre Emilia, núa em pello. E já ia retirar-se quando a boneca fez cara de choro.
— Eu aqui não fico sozinha!...
— Porque, sua enjoada? Tem medo que o leitão venha espiar esses cambitos magros?
— Espiar não é nada, mas elle é capaz de me comer. Tia Nastacia diz que Rabicó devora tudo que encontra.
— Nesse caso penduro você na arvore.