Página:As Reinações de Narizinho.pdf/48

Wikisource, a biblioteca livre
42
O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

— Isso tambem não, protestou Emilia. Alguma vespa pode me ferrar.

— Boba! Não sabe que vespa não ferra panno?

— Mas se eu cahir com o vento?

— Grande coisa! Boneca de panno quando cae não se machuca. Eu é que não posso ficar neste sol tyranno á espera que a excellentissima senhora condessa de Tres Estrellinhas séque! Quem mandou molhar-se?

— Mal agradecida! Se não fosse a minha molhadela você não comia a trahira.

— Está pensando que era uma grande coisa a tal trahira? Só espinho...

— E', mas você a comeu com espinho e tudo — e até lambeu os beiços.

— Labios, aliás. Beiço é de boi. Comi porque quiz, sabe? Não tenho que dar satisfacções, "han!" e Narizinho poz-lhe a lingua.

Emburraram ambas. Narizinho, porem, ficou, porque lá no intimo estava com receio de deixar a boneca sozinha.

Fazia um sol quente e parado. Nas arvores, um ou outro tico-tico só; e no chão, só formiguinhas ruivas. Para matar o tempo a menina poz-se a observar o corre-corre dellas, esquecendo a briga com a boneca.

— Já reparou, Emilia, como as formigas conversam? Que pena a gente não entender o que dizem!..

— A gente é modo de dizer, replicou Emilia, porque eu entendo muito bem o que ellas dizem.

— Sério, Emilia?

— Sério, sim, Narizinho. Entendo muito bem e se você ficar aqui commigo, contarei todas as historinhas que ellas conversam. Repare. Vem aquella de lá e esta de cá. Assim que se encontrem, vão parar e conversar.

Dito e feito. As formiguinhas encontraram-se, pararam e começaram a trocar signaes de entendimento.

— Fiquei na mesma! disse a menina.