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MONTEIRO LOBATO
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— Pois eu entendi tudo, declarou a boneca. A que veio de lá disse: "Encontrou o cadaver do grillinho verde?" A que veio de cá respondeu: "Não!" A de lá: "Pois volte e procure perto da pedra onde móra o besouro manco." Esta formiga que dá ordens deve ser alguma dona-de-casa do formigueiro. Repare seus modos de mandona, e como está sempre a entrar e sahir do buraquinho, como quem dirige um serviço. A outra deve ser simples carregadeira.

Havia de ser isso mesmo, porque logo depois chegou uma terceira, muito apressada, que cochichou com ella e lá se foi, mais apressada ainda.

— Que é que disse esta? perguntou Narizinho.

— Disse que haviam descoberto uma bella minhoca perto da porteira mas que precisavam de ajutorio para conduzil-a.

— Emilia, você está me bobeando! exclamou a menina desconfiada. Vou ver, e se não for verdade você me paga. Espere ahi...

E disparou em direcção da porteira. Procura que procura, logo achou, perto dum tijuco molle, uma pobre minhoca corcoveando com varias formiguinhas ferradas no seu lombo.

Teve vontade de libertar a prisioneira, mas a curiosidade de de ver o que aconteceria foi maior — deixou a triste minhoca entregue ao seu tragico destino.

Novas formiguinhas foram chegando, que de um bóte — "záz!"... ferravam a minhoca sem dó. Não demorou muito e já eram mais de vinte. A minhoca bem que espinoteou; por fim, exhausta, foi molleando o corpo até que morreu, bem morrida. As formiguinhas então principiaram a arrastal-a para o formigueiro.

Que custo! A minhoca era das mais gordas, pesando umas sete arrobas — arrobinhas de formiga, e alem disso ia enganchando pelo caminho em quanto pedregulho ou ca-