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O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

pim havia; mas as carregadeiras davam voltas a todos os embaraços e lá iam.

Depois de meia hora de trabalheira deram com a minhoca no formigueiro. Ahi, nova atrapalhação. Por mais que experimentassem, não houve geito de recolhel-a inteira. Nisto appareceu a formiga mandona. Examinou o caso e deu ordem para que a picassem em varios roletes.

Aquillo foi "zaz-traz!" Em tres tempos fez-se o serviço e os roletes de carne foram levados para dentro.

— Sim, senhora! exclamou a menina depois de terminada a festa. E' o que se pode chamar um trabalho limpo! O demo queira ser minhoca neste pomar...

— Bem feito! disse Emilia. Quem a mandou ser abelhuda? Se estivesse com as outras lá dentro da terra, que é o lugar das minhocas, nada lhe aconteceria. Macaco que muito mexe quer chumbo, como diz tia Nastacia.

Isso, de dia. De noite a historia das formigas continuou. Narizinho e Emilia dormiam juntas na mesma cama. A rede armada entre pés de cadeira fôra abandonada desde que a boneca aprendeu a falar. Dormiam juntas para conversarem até que o somno viesse.

— Mas, Emilia, como é que você entende a linguagem das formigas? perguntou Narizinho logo que se deitou.

A boneca reflectiu um bocado e respondeu:

— Entendo porque sou de panno.

Narizinho deu uma gargalhada.

— Isso não é resposta duma senhora intelligente. O meu vestido tambem é de panno e não enttende coisa nenhuma.

A boneca pensou outra vez.

— Então é porque sou de macella, disse.

Nova risada de Narizinho.

— Tambem não é resposta. Este travesseiro é de macella e entende as formigas tanto como eu.