Página:As Reinações de Narizinho.pdf/67

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
61

— Senhor bandido, tenho alguma coisa a pedir-lhe.

— Diga o que é, respondeu Tom-Mix calmamente, continuando a afiar a faca.

— Quero que me conceda cinco minutos de vida. Preciso fazer o testamento e confiar minhas ultimas palavras a essa libellinha que vae passando.

Tom-Mix concedeu-lhe os cinco minutos. Rabicó chamou a libellinha.

— Amiga, darei a você um lindo lago azul onde possa esvoaçar a vida inteira se você me fizer um pequeno favor.

— Diga o que é, respondeu a libellinha vindo pousar-lhe no focinho.

— E' levar uma carta á princeza Narizinho, que deve estar no reino das Abelhas.

— Pois não!

Rabicó fez a carta depressa e entregou-lh'a. A libellinha tomou-a no ferrão e "zzzit!" lá se foi, veloz como o pensamento. Mal a viu partir, deu Rabicó um suspiro de allivio, murmurando em voz alta: "Coragem, Rabicó, teu dia não chegará tão cedo!"

— Que é que está grunhindo ahi, senhor marquez? perguntou o carrasco.

Rabicó disfarçou:

— Estou pensando na sua valentia, senhor Tom-Mix. Está assim prosa porque deu commigo, que sou um pobre coitadinho. Queria ver a sua cara se Lampeão apparecesse por ahi com os seus cincoenta cangaceiros!

— Lá tenho medo de lampeões ou lamparinas? O marquez não me conhece. Diga-me: costuma ir ao cinema?

— Nunca. Mas sei o que é.

— Se não conhece o cinema não pode fazer idéa do meu formidavel heroismo! Não ha uma só fita em que eu seja derrotado seja lá por quem fôr. Venço sempre! Sou um damnado!...