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Página:As Reinações de Narizinho.pdf/71

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MONTEIRO LOBATO
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O coração da menina palpitou mais apressado.

— Não dizem por lá quem é essa que elle ama?

— Dona Aranha Costureira sabe quem é, mas guarda muito bem guardado o segredo. E' uma senhora muito discreta.

— E o bobinho da corte, aquelle tal gigante Fura-Bolos?

— Nunca mais foi visto. Com certeza teve o mesmo fim do Carlito Pirolito...

Narizinho reflectiu uns instantes. Depois,

— Olhe, disse, não se esqueça, quando voltar, de dizer ao principe que me viu aqui e que vou bem obrigada. Diga-lhe tambem que qualquer dia receberá um convite para que venha com toda a sua corte passar um dia commigo no sitio de vóvó, sim?

O major prometteu que não se esqueceria do recado. E ia dizer mais alguma coisa quando a entrada duma libellinha mensageira o interrompeu.

— Salve, princeza! exclamou ella.

— Viva, correspondeu a menina franzindo os sobrolhos. Traz alguma mensagem para mim?

— Trago uma carta dum illustre marquez. Eil-a.

Narizinho tomou a carta, e leu:


Pesso-vos-lhe perdão da minha kovardia. Tommi-
ques stá qui amolando a phaca pra me matttar. Te-
nha ddó deste infeliz, que se assina, com perdão
da palavra,

criado amigo brigado
RABICO


— O estylo, a letra, a ortographia e a grammatica é tudo delle! Este bilhete corresponde a um perfeito retrato de Rabicó — ou Rabico, sem accento, como elle assigna. Grandessissimo patife!

E voltando-se para a libellinha: