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MONTEIRO LOBATO
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— Tambem lá, num canto, muito jururú nas suas muletas.

— Muletas? repetiu Rabicó sem nada comprehender. Será que cahiu do cavallo?

— Não sei, não tive tempo de me informar.

Rabicó permaneceu pensativo por alguns instantes. Depois disse:

— Está bem. Pode ir. Passe bem, muito obrigado.

A mensageira franziu o nariz.

— E o meu lago azul?

Rabicó, que tinha muito má memoria para as suas promessas, fez cara de surpreza.

— Lago? Que lago?

O lago azul que me prometteu em troca de levar a carta...

— Ah, sim... Mas, menina, para que quer você um lago e logo um lago azul? Eu prometti um lago, é verdade, mas reflectindo melhor vi que é um presente muito perigoso, pois você pode vir a morrer afogada nelle. Em vista disso achei melhor substituir esse lago por esta sementinha de abobora. Tome!

A libellinha ficou furiosa.

— Muito agradecida, disse com ironia. Trato é trato. Faço questão do meu lago azul!

O marquez coçou a cabeça, embaraçado, lançando olhares gulosos para a abobora que estivera comendo quando foi agarrado por Tom-Mix.

— Vamos deixar o caso para ser decidido amanhã, disse por fim. Agora não posso; tenho muito serviço. Imagine que Tom-Mix me condemnou a comer essa abobora inteirinha — a mim, um marquez que está acostumado a só comer bonbons e presuntos...