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O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

XI — A RAINHA


Emquanto isso se passava no Capoeirão dos Tucanos Vermelhos, lá no palacio das Abelhas a menina dizia ao ouvido da boneca :

— Já reparou, Emilia, como é bem arrumado este reino? Uma verdadeira maravilha de ordem, economia e intelligencia! Estive no quarto das creanças. Que gracinha! Cada qual no seu berço de cera, de pernas e braços cruzados, todas tão alvas, dormindo aquelle somno gostoso... O que admiro é como as abelhas sabem aproveitar o espaço, como sabem economizar a cera, tudo dispondo de modo que a colmeia funcciona como se fosse um relogio. Ah, se no nosso reino tambem fosse assim... Aqui não ha pobres, nem ricos. Não se vê um aleijado, um cégo, um tisico. Todos trabalham, felizes e contentes...

— Isso não! contestou a boneca. O besouro é aleijado e pede esmolas.

— Besouro não é abelha, boba. Estou falando das abelhas.

— E quem manda aqui? Quem é o delegado? perguntou Emilia.

— Ninguem manda — e é isso o mais curioso. Ninguem manda e todos obedecem.

— Não pode ser! contraveio a boneca. Quem manda ha de ser a rainha. Vou perguntar, e chamou uma abelhinha que vinha passando. Faça o favor, senhora abelhinha, de nos dar uma informação. Quem é afinal de contas que manda nesta terra? A rainha, não é?

— Não, senhora! respondeu a abelha. Nós não temos governo, porque não precisamos de governo. Cada qual já nasce sabendo as suas obrigações. Isso de governo é bom lá para os homens, que são os bichos mais estupidos e desordeiros da terra.