Narizinho ficou assombrada com aquellas idéas, tão differentes das que lia nos livros. “O homem é o mais intelligente dos animaes, etc.” Mas viu que a abelha não deixava de ter sua razão.
— De manhã sahimos todas, continuou esta, cada uma para o seu lado, afim de recolher o mel das flores e o pollen. E' disso que nos alimentamos. Depois guardamos o mel nos favos. Se ha concertos a fazer, qualquer uma de nós o faz sem que seja preciso ordem. Se a menina passasse uns tempos aqui havia de gostar tanto que depois não mais se acostumaria no estupido reino dos homens.
— Mas a rainha? perguntou a menina. Estou cansada de esperar pela hora de conhecer essa grande dama. Deve ser linda, linda!...
A abelha continuou:
— Pensa que a nossa rainha é alguma dama emproada como as rainhas dos homens? Nada disso. Nem rainha é! Os homens é que a chamam assim. Para nós não passa de mãe. Todas somos filhinhas della — todas, todas! E vivemos a rodeal-a de commodidades e carinhos, sem nunca lhe darmos o menor desgosto. Olhe, menina, lá no reino dos homens costumam falar muito em felicidade, mas fique certa que felicidade só aqui. Cada uma de nós é feliz porque todas somos felizes. Lá, não sei como pode alguem ser feliz sabendo que ha tantos infelizes em redor de si!
Narizinho e Emilia ficaram tristes. Que maçada serem gente e não poderem transformar-se em abelhas para morar numa colmeia daquellas, toda a vida occupadas num trabalho tão lindo como esse de recolher o mel e o pollen das flores...
— Mas a rainha, a rainha! insistiu a menina. Quero ser apresentada á rainha!
— Pois vamos lá, respondeu a abelha. Sigam-me.
Foram. Depois de atravessarem varios compartimentos