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Página:As Reinações de Narizinho.pdf/81

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MONTEIRO LOBATO
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— Como? Explique isso! Fale! gritou Narizinho ansiosa.

— Appareceu por lá uma velha coróca, de porrete na mão e cesta no braço. "Menino", disse-me ella, "é aqui a casa onde moram duas velhas dugudéias em companhia duma menina de nariz arrebitado, muito malcriada?" Furioso com a pergunta, respondi: "Não é da sua conta. Siga seu caminho que é o melhor. "Ah, é assim?" exclamou ella. "Espere que te curo!" E me virou a mim em passarinho, virou vóvó em tartaruga e tia Nastacia em gallinha preta..

— Que horror! foi o grito que escapou de Narizinho. Que vae ser de nós agora? Já sei quem é essa velha! Não pode ser outra! Bem disse que havia de vingar-se...

— Que foi que aconteceu, princeza? indagou Tom-Mix, já de mão no revolver.

— Não sei, Tom, se desta vez você nos poderá valer! Você é invencivel, de igual para igual. Mas contra uma bruxa feiticeira, não sei... não sei...

— Deixe tudo por minha conta, princeza, e não duvide da minha arte de resolver casos complicados. Siga viagem que eu vou dar volta pelos arredores afin de apanhar essa velha. Juro que a hei de trazer bem segura para que desfaça o mal que fez...

— Os anjos digam amen! suspirou Narizinho mais animada. E dando redeas ao cavallinho pangaré tocou para o sitio com o pichochó ainda pousado no hombro.

Que tristeza! Mal Narizinho apeou no terreiro e já ouviu uma gallinha cacarejar lá dentro.

— E' tia Nastacia, coitada!... suspirou com o coração cortado.

Entrou. Na sala de jantar viu sentada na rede, costurando, uma tartaruga de oculos.

— Vóvó! gritou a menina com desespero. Não me conhece mais, vóvó?

A tartaruga quieta, quieta...