testa. Para esconder esse signal usa cartola, que não tira nunca, nem na igreja. Desse modo, como ninguem vê o signal da corôa, ninguem desconfia.
Emilia pensou, pensou, pensou e disse:
— Pois bem, acceito! Mas desde já vou dizendo que não saio daqui. Caso-me, mas não vou morar com Rabicó emquanto não virar principe novamente.
— Muito bem! concluiu Narizinho. Nesse caso vá preparar-se para receber o visconde, que não deve tardar. Recebi recado que já está em caminho. Vista aquelle vestidinho de pintas vermelhas e ponha mais rouge na cara, ouviu?
Emquanto a boneca se vestia, a menina correu ao pomar em procura de Pedrinho, que estava occupado em chupar laranjas limas.
— Depressa, Pedrinho! Arranje-me um bom visconde de sabugo, bem respeitavel, de cartola na cabeça e um signal de corôa na testa, e venha com elle pedir Emilia em casamento. Enganei-a que Rabicó é filho desse visconde, o qual é um grande rei, de um reino lá atraz do morro. Os dois, pae e filho, foram encantados por uma fada, só devendo desencantar no dia em que Rabicó descobrir uma certa minhoca que tem certo anel magico na barriga.
— E a boba acreditou?
— Acreditou piamente e declarou que nesse caso acceitará Rabicó como esposo, embora não vá morar com elle emquanto não virar principe novamente.
Pedrinho fez como ella pediu. Arranjou um bom sabubo, ainda com umas palhinhas no pescoço que fingiam barba muito bem, botou-lhe braços e pernas, fez cara, com nariz, bocca, olhos e tudo — e não esqueceu de marcar-lhe a testa com um signal de corôa de rei. Depois enterrou-lhe na cabeça uma cartolinha e lá foi com elle á casa da boneca.
— Tóc, tóc, tóc, bateu.
— Quem é? indagou de dentro a voz da menina.
— E' o illustre senhor visconde de Sabugosa que vem