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As biografias históricas de Santos Dumont

fez carreira de escritor como um nacionalista exarcebado, todos que serviram de alguma maneira para dar crédito àqueles irmãos são simplesmente patifes e "vendidos"; até a uma pitada de anti-semitismo Fonseca recorre.

O livro de Alexandre Brigole (1941) Santos-Dumont: o pioneiro do ar, também lançado em inglês em 1943, é um sumário de parte da vida do biografado, inferior ao de Fontes e Fontes (1935) e, mais ainda, ao de Fonseca. O pouco que acrescenta são sua beleza gráfica e as fotos.

No mesmo ano, o diplomata Aluizio Napoleão (1941) lançou o seu Santos Dumont e a conquista do ar. Este é montado, em parte, com base nos livros do aeronauta, os quais cita ou parafraseia com frequência e, por outra parte, com base em dados de revistas e jornais franceses, também muito citados. Completa as informações recorrendo a Fontes e Fontes (1935) e a Fonseca (1940). O texto é interessante e tem um perfil próprio, estando longe de ser fortemente baseado em Fonseca, muito menos plágio, ao contrário do que insinua o próprio Fonseca. Todavia, é verdade que, em termos de dados concretos, pouco ou nada acrescenta sobre Santos Dumont em relação ao trabalho de Fonseca. Cabe notar que desenvolve uma tentativa mais séria de desqualificar os irmãos Wright – à base de duvidar de informações sobre eles, em vez de chamar de patife quem as prestou.

Aluizio Napoleão também organizou o livro do Ministério das Relações Exteriores (Brasil, 1941), Documentos e depoimentos sobre os trabalhos aeronáuticos de Santos Dumont — que foi reimpresso em Napoleão (1988), ocupando metade do volume. Em sua maioria, os documentos exibidos no livro são relatos jornalísticos para o grande público, retirados de periódicos como L'Illustration, La Nature, Je Sais Tout, Le Petit Journal, Le Matin, The Illustrated London News e outros.

Os depoimentos são trechos de livros estrangeiros de história da aeronáutica. Foram selecionadas passagens que exaltam Santos Dumont ou que expõem fraquezas relativas à trajetória dos irmãos Wright (em vários casos, passagens de livros que, em páginas não reproduzidas, testemunham em favor dos irmãos Wright).

O mérito do livro é dar ao leitor brasileiro acesso a uma literatura que, de outra forma, a pobreza das nossas bibliotecas não permitiria tê-lo. No entanto, ao coletar-se sistematicamente material no exterior, teve-se uma oportunidade de levantar documentos que contribuíssem para esclarecer que papel Santos Dumont desempenhou na história da tecnologia aeronáutica. A oportunidade não foi aproveitada, e o livro nada contribui para tal. Napoleão reproduziu notícias repetitivas de jornais, bem como trechos superficiais e mal-feitos de enciclopédias popularescas. Em contraste, não reproduziu relatos do mais técnico e competente periódico aeronáutico, L'Aérophile, a publicação da preferência do Aero-Clube da França. De modo semelhante, deixou de buscar relatos interessantes em periódicos como La Vie au Grand Air, L'Aéronaute,

scientiæ studia, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 687-705, 2013

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