Página:As organizações no ciberespaço.djvu/43

Wikisource, a biblioteca livre

existência de um Estado, o aparato somente as regularia sem jamais exercer qualquer procedimento de veto ou impedir sua renovação contínua. Neste caso a sociedade civil — num sentido marxiano — é vista como uma infra-estrutura e o Estado a superestrutura. A sociedade civil corresponde, portanto, ao todo das relações entre indivíduos que estão fora ou anteriores ao Estado.

Na segunda definição é vista como o local em que se manifestam as instâncias para modificar as relações de dominação, surgem grupos que lutam pela emancipação do poder político e são chamados de contra-poderes. Há uma conotação negativa nesta definição, sobretudo sob o ponto de vista do Estado, pois a sociedade civil adquire um caráter desagregador.

Já a terceira acepção, de linha gramsciana, aponta o ideal da sociedade sem Estado que surge com a dissolução do poder político, a sociedade civil absorveria a sociedade política. É a esfera na qual agem os aparatos ideológicos no intuito de exercer uma hegemonia e, isto feito, obter o consenso. Embora haja uma diferenciação entre o Estado e a sociedade civil, esta serve para legitimar o processo de dominação. Sob essa perspectiva, Bobbio indica:

"a sociedade civil é o lugar onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais, ideológicos, religiosos, que as instituições estatais têm dever de resolver ou através da mediação ou através da repressão. Sujeitos desse conflito e portanto da sociedade civil exatamente enquanto contraposta ao Estado são as classes sociais, ou mais amplamente os grupos, os movimentos, as associações, as organizações que as representam ou se declaram seus representantes; ao lado das organizações de classe, os grupos de interesse, as associações de vários gêneros com fins sociais, e indiretamente políticos, os movimentos de emancipação de grupos étnicos, de defesa dos direitos civis, de libertação da mulher, os movimentos de jovens etc. " (BOBBIO, 1987, p.35-36)

Tais modelos de associações coletivas formam um substrato da organização do público das pessoas privadas que procuram interpretações públicas para suas experiências e interesses sociais, portanto exercendo influência na formação de opinião e vontade.

Por conseguinte, Habermas aponta uma mudança no significado do termo sociedade civil em relação ao da sociedade burguesa que constituía uma economia do direito privado e