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das ondas. A tormenta começou ao amanhecer de um Sábado, e só amainou na Quinta-feira à tarde. Logo no primeiro dia, a fúria do vento despedaçou algumas velas, e começou a impedir todas as manobras. Era quase impossível estar no convés: o vento queria carregar tudo quanto achava no seu caminho, e soprava com uma violência incrível. Havia ondas, que mais pareciam verdadeiras montanhas, subindo a uma altura extraordinária, e vindo desabar com fragor dentro do navio. Não havia a bordo um só lugar enxuto. Não comíamos, não dormíamos, estávamos extenuados de fadiga e de fome. No quarto dia quebrou-se o leme... Foi então que nos consideramos perdidos... O navio, sem governo, dançava sobre as águas ao capricho do vendaval, e de instante a instante estávamos vendo chegar o momento da catástrofe final. Essa situação desesperadora ainda durou dois dias, ao cabo dos quais, quando já todos contávamos com a morte inevitável, o tempo melhorou de súbito.

— E ninguém morreu? — perguntou Alfredo.

— Perdemos dois homens, arrebatados das vergas pelo tufão... A bordo, estava tudo quebrado. Além da perda do leme, ainda tivéramos a do mastro grande, lascado por um raio. Foi nessa triste situação que nos encontrou um navio francês, ao qual devemos a salvação. A corveta foi conduzida até Sidney. Felizmente, a tempestade levara-nos até perto da Austrália...

— Não sabiam que estavam perto? — indagou o pequeno.

— Nada sabíamos, porque estávamos sem bússola, sem sextante. Tínhamos perdido tudo. Foi