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Tudo era novidade para eles, que, no entanto, no Rio de Janeiro tinham nascido e vivido os primeiros tempos; mas havia oito anos que o pai se mudara para o Recife; Carlos ainda guardava algumas lembranças, não da cidade propriamente, mas da casa onde nascera, uma grande chácara onde brincara, um horizonte de montanhas ao fundo... Nem sabia, porém, onde ficava a casa.

Para apresentar-lhes o Rio de Janeiro, num só panorama, o pai de Jorge levou-os ao alto do morro do Castelo; aí, evocaram o remotíssimo tempo em que Mem de Sá, em 1567, fundou a cidade, nessa mesma colina assentando as primeiras muralhas, os primeiros fossos de defesa e as primeiras habitações; ao seu espírito, acudiram, recordados em rápida síntese, todos os episódios da história urbana, todos os lentos progressos da sua existência; e, deslumbrados, viram e admiraram a atual grandeza da metrópole, toda a sua vida e animação: a fumarada que subia das chaminés das fábricas, a multidão a formigar nas ruas e nas praças, os bondes, as carruagens, os automóveis...

E, olhando as águas calmas de Guanabara, a cercar a cidade, desde a costa de Benfica até o recanto da Gávea, compreenderam que razão tinham os indígenas, em chamar a baía de: Guanabara, que quer dizer — água escondida... escondida na grandeza das montanhas que as fecham por toda parte.