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começou a sentir-se fatigado: doíam-lhe as costas e as pernas; voltava-se, ora para um, ora para outro lado, procurando uma posição mais cômoda. Carlos compreendeu o seu sofrimento, e tentou distraí-lo:

— Sabes para onde vamos?

— Não. Para onde? — Perguntou o pequeno, já com os olhos acesos de curiosidade.

— Vamos para o Estado de Alagoas, e na direção do Estado da Bahia. Não te lembras da capital da Bahia, por onde passamos há cinco anos? É a cidade mais velha do Brasil. Foi na Bahia que viveu o Caramuru.

— Que Caramuru?

— Caramuru — começou Carlos a narrar — foi o nome que os índios deram a um certo Diogo Álvares, português, que naufragou na Bahia ali por volta de 1510. Aprisionado pelos índios, Diogo Álvares ia ser por eles comido...

— Comido?

— Sim. Os selvagens do Brasil eram antropófagos, isto é: comiam os seus prisioneiros. Diogo Álvares ia ser comido, quando teve a feliz idéia de fazer fogo, com a espingarda que trazia, sobre um pássaro. Ouvindo o estrondo da arma, que não conheciam, vendo o pássaro cair fulminado, os índios prostraram-se por terra, e adoraram o náufrago português, a quem deram o nome de Caramuru.

— Mas, que quer dizer essa palavra?

— Dizem uns que, na língua selvagem, Caramuru queria dizer senhor do raio, filho do trovão; e dizem outros que com esse nome designavam os indígenas