Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/55

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— Oh! José! — gritou o capitão. — Então vocês não dançam? Dancem um pouco, que estes moços querem ver!

— Formem a roda! — bradou o José — formem a roda!

— Quem tira? — perguntou um outro.

— Teresa! Teresa, tira o samba!

Levantaram-se todos. O Benvindo acomodou-se a um lado, com a sua viola. Formaram uma larga roda. No meio, apareceu uma crioula, moça e franzina, bonita, e começou a cantar com uma vozinha fraca, mas afinada:

Eia, negro ateimoso:

O boi é preto, valeroso, guadimá,

Fui ao mato, tirei pau fiz um bodoque,

Mandei balas a galope

No peito do sabiá...

Todos responderam, em coro, cantando a mesma trova. A crioula cantava dançava, dentro da roda, sapateando, com um passinho miúdo, acompanhando o ritmo da música, dando voltas e reviravoltas e castanholando com os dedos. Quando ela acabava de cantar uma trova, o coro a repetia. Depois a dançarina aproximou-se de um dos parceiros da roda, dançando sempre, chamando-o, vindo os dois dançar no centro do círculo, um defronte do outro, — e retirou-se, cedendo o lugar a outra pessoa.

— Bem! — disse Carlos. — Já vimos bastante. Vamos dormir, Alfredo, que devemos partir cedinho...

Dormiram. E, quando nasceu o sol, já estavam prontos para partir, levando roupas, um farto farnel, e muitos abraços e desejos de felicidade.