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IX. PIRANHAS

Por quatro horas a fio, os nossos três viajantes seguiram por um caminho seco e ligeiramente acidentado, subindo e descendo morros baixos, quase totalmente despidos de vegetação. O sol ardia e fulgurava, reverberando sobre os calhaus da estrada, de onde saltavam faíscas de ouro. A poeira cegava.

A princípio, ainda se via uma ou outra casinha, com uma pequena plantação à roda, — favas, mandioca, algodoeiros, bananeiras ou canas. Mas logo depois começou o campo deserto, duro e seco. Poucas árvores havia, mirradas, retorcendo no ar os galhos desfolhados. Os dois rapazes sofriam cruelmente. Alfredo, às vezes, olhava o irmão, com os olhos angustiados. Mas Carlos fingia não compreender: era impossível parar ali, onde não havia água nem sombra.

— Arre! Patrão! — exclamou Benvindo. — Felizmente, está acabando este maldito carrascal! Ali em baixo passa uma aquinha, e moram uns conhecidos meus. Vamos descansar um pouco, enquanto passa o ardor do meio-dia. E depois, puxaremos pelos animais, se quisermos ir dormir