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logo com o mestre. Era um homem mau, teimoso, birrento. Dava-me tarefas enormes; e, vendo que o que mais me aborrecia era o trabalho de casear calças, justamente me dava esse trabalho.

“Perto da casa do alfaiate, havia uma oficina de ferreiro. Eu, sempre que podia fugir, ia até lá, e ficava embevecido contemplando aquele trabalho forte e movimentado, que me encantava. Minha madrinha, querendo satisfazer a minha aspiração, pediu ao marido que me deixasse mudar de aprendizado. Ele consentiu, e eu fiquei contentíssimo. Foi este o tempo mais feliz da minha vida. O trabalho agradava-me, e empenhei-me nele com tanta diligência, que ao cabo de um ano já era um bom limador.

“Um dos serviços de que mais gostava era o de fazer carvão. De oito em oito dias, íamos, dois aprendizes e um oficial, preparar as provisões de combustível para a forja. Saíamos de madrugada, em direção ao mato, levando foices e machados. Cortávamos a lenha, fazíamos a coivara, e, à noite, depois de um dia de rude trabalho, voltávamos, com dois animais carregados de carvão.

“Mas a minha felicidade não durou muito. Meu padrinho morreu; e, onze meses depois, minha madrinha praticou a loucura de casar com um malandro, que só cobiçava a casa e o dinheiro que o defunto legara à viuva. Era um vadio, e um bêbedo. Preguiçoso e grosseiro, abominava o trabalho e passava o dia inteiro na venda, bebendo e palestrando. Um mês depois de casado, já maltratava a minha pobre madrinha. Essa