Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/94

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inteiramente, com a roupa pegada ao corpo, corria sempre, para o lado da mata. Era o que me valia: era esse o lado que eu mais conhecia. Quando já me pareceu ter andado uma légua, parei, e tentei achar um abrigo. Foi em vão. Chovia cada vez mais, e as árvores, sacudidas pela ventania, escorriam água. Continuei a caminhar. Andei mais meia légua. A tempestade abrandou. A chuva foi cessando, e apareceram os primeiros clarões do dia. Entrei no mato, e encostei-me a uma pedra, para descansar um pouco. Encolhido, regelado até os ossos, adormeci.

“Quando acordei, devia ser meio-dia. O sol estava a pino, quente como fogo. Mas eu tremia, sacudido por uns tremores, como os calafrios das sezões. Doíam-me a cabeça, o peito e as cadeiras. Sentia ânsias. Veio-me uma tosse seca, e comecei a sentir uma dor muito forte, muito fina, sob as costelas. Não podia respirar, e parecia-me que, tonta, a cabeça andava à roda. Olhei em torno e reconheci que estava justamente no ponto do mato, tão meu conhecido, onde vinha sempre fazer carvão. Quis levantar-me, mas as pernas doíam-me tanto, que fiquei quieto.

“Ah! Vosmecês não podem imaginar o que senti então! Via-me ali perdido, desamparado, sentindo que ia morrer, sem esperar socorro! E pensava: — se fico aqui, morro abandonado, sem Ter quem me dê um golpe d’água: se saio para a estrada, prendem-me, e vou sofrer as maldades daquele homem ... eu que nunca fiz mal a ninguém!...

“Fiz um esforço desesperado, levantei-me,