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III

Respira tão tranqüila, tão serena,
E em langor tão suave adormecida,
Como quem livre de temor, ou pena,
Repousa, dando pausa à doce vida.
Ali passar a ardente sesta ordena,
O bravo Jararaca a quem convida
A frescura do sítio e sombra amada,
E dentro d'água a imagem da latada.

IV

No diáfano reflexo da onda pura
Avistou dentro d’água buliçosa,
Tremulando, a belíssima figura.
Pasma, nem crê que imagem tão formosa
Seja cópia de humana criatura.
E, remirando a face prodigiosa,
Olha de um lado e doutro, e busca atento,
Quem seja original deste portento.

V

Enquanto tudo explora com cuidado,
Vai dar cos olhos na gentil donzela
Fica sem uso d'alma arrebatado,
Que toda quanta tem se ocupa em vê-la.
Ambos fora de si, desacordado
Ele mais, de observar coisa tão bela,
Ela,absorta no sono em que pegara,
Ele, encantado, a contemplar-lhe a cara.