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CARTAS DE INGLATERRA
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Estão em toda a parte, esses inglezes! O seculo XIX vae findando, e tudo em torno de nós parece monotono e sombrio — porque o mundo se vae tornando inglez. Por mais desconhecida e inedita nos mappas que seja a aldeola onde se penetre, por mais perdido que se ache n’um obscuro recanto do Universo o regato ao longo do qual se caminhe — encontra-se sempre um inglez, um vestigio de vida ingleza!

Sempre um inglez! Inteiramente inglez, tal qual como sahiu da Inglaterra, impermeavel ás civilisações alheias, atravessando religiões, habitos, artes culinarias differentes, sem que se modifique n’um só ponto, n’uma só prega, n’uma só linha o seu prototypo britannico. Hirtos, escarpados, talhados a pique, como as suas costas do mar, ahi vão querendo encontrar por toda a parte o que deixaram em Regent-Street, e esperando Pale-Ale e roast-beef no deserto da Petrea; vestindo no alto dos montes sobrecasaca preta ao domingo, em respeito á egreja protestante, e escandalisados que os indigenas não façam o mesmo; recebendo nos confins do mundo o seu Times ou o seu Standard, e formando a sua opinião, não pelo que vêm ou ouvem ao redor de si, mas pelo artigo escripto em Londres; impellindo sempre os passos para a frente, mas com a alma voltada sempre para traz, para o home; abominando tudo o que