de França «ad usum» Binoculopolis, os estados por que passam taes almas, postos em letra de fôrma, são coisa pulha e maçadora até mais não poder. Penso como você, Josepha. Quero conto que conte coisas; conto de onde eu saia podendo contar a um amigo o que aconteceu, como o fulano morreu, si a menina casou, si o máo foi enforcado ou não. Contos, em summa, como os de Maupassant ou Kipling...
— Ou de seu Cornelio Pires...
— Perfeitamente, do Cornelio, do Arthur Azevedo, contos onde haja drama, comedia ou pelo menos uma anecdota original. Mas estas pretenciosas aguas panadas, este phantasiar por paginas a fio sem lance que arrepie o cabello ou repuxe musculos faciaes, esta gelatina insossa da Academia de Letras de Itaóca...
Josepha, quando lhe falam na Academia de Itaóca, regala-se toda, e toda se expande em risos. Ficou assim desde que leu a Condessa Felisberta e varias immortalices quejandas.
— E então, este sêo Arthur tambem é immortal, dos que escrevem homem sem h?
— E', Zepha, é immortal vitalicio, com patente e direito de podar os h h da lingua e comer os da sciencia — e — o que é peior — com privilegio de maçar a humanidade com sornices pacovias que só não engolem criaturas sãs como tu, toda paladar e sinceridade. Ahi fóra a turba, em vendo emanação de immortal, é como se chovessem perolas do céo — lambem beiços e unhas, esquecidas de que ha receitas para entrar nas Academias além de que tambem nellas se entra por baixo do panno...
E a conversa recaiu sobre contos. Disse um da roda:
— Contos andam ahi aos pontapés, a questão é saber apanhal-os. Não ha sujeito que não tenha na memoria uma duzia de arcabouços magnificos, aos quaes, para virarem obra d'arte, só falta o vestuario de fórma, bem cortado, bem cosido, com pronomes bem collocadinhos. Querem vocês a prova? Vou arrancar um ao primeiro conhecido que entrar.
E puzemo-nos de tocaia.
Não tardou muito, surge o Cesar.
— Viva! Fazia-te ainda no sertão, homem!
— Pois estou cá. Cheguei hontem, refeito, oxygenado, reverdecido de alma e corpo. Que delicia é o sertão!
— Muita caçada?
— Dez queixadas, tres antas... E, por falar, já ouviram vocês a historia do «Resto de Onça»?
— «Resto de Onça»?! exclamamos todos aparvalhados.
Cesar gosou o nosso espanto. Depois, narrou.
— Estavamos organizando uma batida ás antas. Quem dirigia a caçada era lá o meu capataz, Quim da Peroba, o mais terrivel caçador das redondezas. Quando é elle quem dirige o serviço a bicharia soffre destroço pela certa, tão habil é na escolha dos companheiros, dos cães e das disposições estrategicas.
— «Vae, dizia o Quim contando nos dedos, vae o Nico, vae o Peva, vae o «Resto de Onça»...
— «Resto de Onça»? exclamei eu, tão aparvalhado como vocês inda agora. — Que diabo de bicho é esse?
Quim sorriu e disse:
— «E' um pedaço de homem; um homem a quem a onça comeu uma