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— Pois então casarás com o meu cosinheiro.

A do meio tambem disse que tinha fallado por zombaria; o rei mandou que se arrecebesse com o copeiro. Chegou-se por fim á mais moça, que era a mais bonita:

— Então, disseste que só querias casar commigo?

— É verdade, não posso mentir; mande-me vossa magestade castigar.

O que o rei fez foi casar com ella; as irmãs ficaram a arrebentar de inveja, mas viviam no palacio. Ao fim do tempo, a que estava rainha teve dois meninos com uma estrellinha na testa. As irmãs, que estavam com ella, trocaram os meninos por dois cães. Os meninos foram botados ao rio dentro d’uma condessinha, e foram por agua abaixo ter ao moinho de um moleiro; como lhe parasse a agua, elle saiu a vêr o que era, e achando as duas criancinhas tomou-as para casa e criou-as. Ora o rei andava longe da terra, e quando veiu soube do caso e ficou muito triste, mas não fez mal á mulher. Passado tempo a rainha teve uma menina, e as irmãs, vendo que ella tambem tinha uma estrella na testa, trocaram-n’a por uma cadellinha e mandaram-n’a deitar ao rio; assim foi ter ao moinho onde já estavam os irmãos. O rei quando soube que a sua mulher tinha tido uma cadella, mandou-a enterrar até á cinta no pateo do palacio, para que todos que entrassem ou saissem lhe cuspissem em cima.

Os tres meninos cresceram, e o moleiro pôz-lhes umas carapucinhas para encobrir as estrellas de ouro que tinham na testa.

Um dia foi uma pobre pedir esmola á porta do moleiro; os meninos deram-lhe a esmolinha, e era Nossa Senhora, que lhe disse, que quando se vissem em alguma afflicção dissessem: «Valha-me aquella pobresinha.» Veiu a peste, e o moleiro e toda a sua gente morreu, e os meninos foram todos tres por esse mundo. Appareceu-lhe a pobre que os guiou até ao pé do palacio do rei, e deu--