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Página:Contos Tradicionaes do Povo Portuguez.pdf/157

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— Fez o que lhe mandei?

— Fiz.

Elle olhou para a pêra sem malha, ficou muito contente; destinou-lhe serviços para ella fazer, e foi-se outra vez embora para uma viagem de outo dias.

A menina tirou a pêra, e foi ao quarto dos mortos levar um caldo ao menino principe, que ficou são. Sentiram uns carros do rei que levavam esterco e elles fugiram e foram ter com os carreiros para os levarem para o palacio. Chegaram aos carreiros e perguntaram:

— Que novidades ha n’essa cidade?

— Officios dobrados pela falta do principe.

— O principe sou eu; e esta menina deu-me a vida, na casa onde estava esfaqueado pelos ladrões. Agora, carreiro, deita esterco fóra do carro de traz, põe meia sebe e deita em cima o esterco, que nós nos escondemos ahi.

O carreiro assim fez; eram trez carros e pozeram-se a andar. Os ladrões tinham encontrado um feiticeiro, e elle offereceu-se para ir para a sua companhia. Chegaram a casa, o capitão não encontrou a menina, mas o feiticeiro logo lhe disse que ia fugida no carro de traz.

Partiu um dos ladrões para a ir buscar; chegou ao carreiro, mandou-o parar, e cavar no carro de traz até meio, e vendo que não achava nada, foi-se. Os meninos passaram para o carro segundo. Chegando a casa, disse o ladrão:

— É mentira; não achei ninguem, pois despejei o carro até meio.

Disse o feiticeiro:

— Despeja o carro todo, que elles lá estão.

Parte o ladrão a toda a pressa, apanhou o carreiro, mandou despejar o carro todo, e como os meninos já tinham passado para o carro do meio, não achou nada. Foi-se embora furioso contra o feiticeiro. Diz o sabio:

— Vão agora no carro do meio.