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Ratão á sua presença, e perguntou-lhe quanto queria para adivinhar quem eram os ladrões. Respondeu o João Ratão que queria que o rei lhe désse trez jantares primeiramente. O rei mandou pôr uma meza com bastantes iguarias, e os criados do palacio começaram a servir o adivinhão. Assim que João Ratão acabou de comer o primeiro jantar, pôz-se a tocar rufo com o garfo e a faca no prato, dizendo muito contente:

— O primeiro já cá está! O primeiro já cá está!

Um dos criados que o servira, ouvindo o que João Ratão dizia, entendeu que era comsigo, e que elle tinha adivinhado que estava ali um dos ladrões. Ao outro dia João Ratão comeu um segundo jantar, e tornou a bater com o garfo e faca, cantando:

— O segundo já cá está! O segundo já cá está!

O criado tinha pedido a um companheiro que fosse servir o adivinhão em logar d’elle, e este outro percebendo que estava tudo descoberto botou-se de joelhos aos pés de João Ratão confessando tudo, e dizendo-lhe quem eram os outros companheiros, mas que só elle é que podia fazer com que o rei lhes perdoasse. João Ratão descobriu ao rei quem eram os ladrões, e ficou muito acreditado na côrte. O rei não o quiz mais deixar ir embora, e disse que lhe ia propôr uma adivinha; se elle a soubesse explicar, daria-lhe a mão da princeza, e se não acertasse o mandaria matar.

João Ratão ficou triste como quem via já o fim da sua vida; comeu á mesa com o rei. No fim do jantar trouxeram-lhe um copo cheio de mijo de porca, e elle bebeu. Perguntou-lhe então o rei:

— Adivinha o que é que agora bebeste!

João Ratão ficou todo atrapalhado, porque sabia que d’esta não escapava, e disse:

— Aqui é que a porca torce o rabo.

O rei ficou muito admirado d’elle ter adivinhado, e cumpriu a palavra dando-lhe a princeza em casamento.