— Pera que levaes assy esse cã?
Respondeu o aldeão:
— Irmaão, nom sabês o que dizees, ca certamente carneyro he e nom cam.
E o Ribaldo aperfiou com elle que era cam. E asy o fezerom os outros tres ribaldos. E o aldeão veendo esto disse antre sy:
— Eu cuidava que esto era carneyro; mas poys todos dizem que he cam, nom hei que faça dele, — e lançou o carneiro em terra e foyse. E os Ribaldos tomaram-no.
E bem assy communalmente todo o mundo falla mentirosamente.
(Orto do Sposo, de Frei Hermenegildo de Tancos, alcobacense.)
Hum cavaleyro era muy namorado d'huma dona muy filha d'algo, casada. E a dona era de boa vida e non curava nada do cavalleyro como que a elle demandava muy aficadamente. E aconteceu que morreu o marido da dona. E o cavaleyro começou de a demandar mais aficadamente. E ella mandou-o chamar e disse-lhe:
— Vós sabedes que non sodes igual a mym; pero quero vos tomar por marido se vos iguardes a mym al de menos em riquezas, e per esto me escusarey de meu linhagem.
E o cavaleyro pidyu a elrey e aos outros senhores e trouve aa dona muyto ouro e muyta prata e muytas doas. E ella por se escusar do seu casamento disse-lhe, que todo aquello era pouco, se mais non trouvesse. E entom o cavaleyro teve o caminho a hum mercador que levava muy grande aver e matou-o e soterrou-o fóra da carreyra e tomou todo o aver que levava e trouve-o aa dona. E